terça-feira, 8 de abril de 2008

RECONSTRUINDO SIMONAL


Um dos filme que causou mais impacto na recente mostra É Tudo Verdade foi Wilson Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. A fita só estréia no circuito comercial no segundo semestre (produção da Globo Filmes), mas aqueles que já assistiram ficaram impressionados. Simonal foi um dos mais populares e talentosos artistas brasileiros dos anos 60. Mas um infeliz problema com a policia jogou o "Rei da Pilantragem" no ostracismo. Simonal mandou dar uma surra num contador que o estaria roubando e o escândalo virou uma autêntica bola de neve. No final, o cantor foi acusado de ser informante da ditadura. Não houveram provas concretas, mas Simonal foi massacrado pela esquerda (especialmente pelo jornal O Pasquim) , marginalizado pela classe artística, afundou na mágoa e no alcoolismo e nunca foi reabilitado em vida. Oito anos depois de sua morte, parece que chegou a hora da bossa e suigue do Simonal voltarem com força total. O grande mérito do documentário é não tomar partida de nenhum dos lados. O público é o juiz. E o melhor é ver o saudoso Simonal em ação nos anos 60, participando de programas da TV Record, fazendo dueto com Sarah Vaughan e Elis Regina e regendo o Maracanãzinho ao som de “Meu Limão Meu Limoeiro”.

Veja o trailer:

Um comentário:

Anônimo disse...

Não há qualquer verdade em tudo o que foi dito contra Wilson Simonal ao longo de quase quatro décadas, o suposto envolvimento com a repressão já está mais do que esclarecido. Simonal foi desmoralizado porque a mídia promoveu uma campanha sórdida contra ele e a classe artística tratou de engolir rapidinho todas as mentiras. O próprio Jaguar (um dos mentores da campanha promovida pelo Pasquim contra Simonal) já admitiu que "talvez tenha cometido um engano", mas que está muito velho para rever posições: "Foi um impulso meu, ele era tido como dedo-duro".

O depoimento dos policiais não passou de mentiras para livrar a cara deles mesmos, que, envolvidos na questão do contador, precisavam justificar porque utilizaram as dependências do DOPS. O inspetor Mário Borges, em sua defesa, mentiu em juízo ao dizer que "interrogou" Rafael Viviane porque Simonal era um informante, e que, por isso, acreditou que o preso era um terrorista perigoso. Entretanto, o superior dele, o inspetor Vasconcelos, DESMENTIU o testemunho, mas, este depoimento, apesar de constar no processo (3450), ESTRANHAMENTE não ganhou as páginas dos jornais. Simonal cansou de repetir isso, mas, alguém lhe deu ouvidos?

O próprio Boni admitiu, com todas as letras, que se Wilson Simonal fosse realmente um colaborador da ditadura, ele teria sido, naquela época, a ÚNICA atração que teria total aval para ir ao ar na Rede Globo. Elementar...

Simonal incomodava muita gente porque se negava a dizer amém à sociedade racista da época. O preconceito racial era explícito, normal e corriqueiro, o estranho era alguém agir diferente. O Brasil sempre foi um país hipócrita, não nos iludamos, nada mudou, a diferença daqueles tempos para os dias atuais é que agora, além de ser crime, o racismo também é "politicamente incorreto", o que não o elimina, apenas camufla. Como disse Florestan Fernandes, "o brasileiro tem preconceito de não ter preconceito".

Dá para imaginar o estardalhaço que fazia um negão boa pinta desfilando de nariz empinado, todo cheio de si, a bordo de carrões e derretendo o coração das "lourinhas de família" – era um sacrilégio, a sociedade não engolia. Muitos dizem que Simonal cavou a própria cova porque era arrogante e metido. E daí, qual é o problema, é crime? A meu ver ele não destoava em nada de tantos outros artistas a não ser por uma enorme diferença: cometeu o pecado de nascer negro. Se fosse branco, certamente não faria diferença. Estava mais do que certo, tinha de se armar contra os que não admitiam que um negro nascido numa favela chegasse lá. E, além do mais, ele podia ser empinado, metido, e o que mais quisesse, afinal, não é qualquer um que consegue ser O MAIOR CANTOR de um país tão grande. Ele incomodou sim, arrebatou multidões e alardeou seu talento aos quatro cantos… imperdoável.

Não estou dizendo que Simonal era santo. Ele cometeu um gravíssimo erro ao envolver-se na questão com o contador, mas, foi processado, condenado e cumpriu a pena – pagou a dívida com a sociedade. Porém, as coisas não foram tão simples: ele deu a munição necessária para os que queriam vê-lo pelas costas: a mídia e a classe artística. Era tudo o que queriam, um motivo, um deslize, uma pisada em falso, pois não suportavam ver um negro num posto tão alto. Tornou-se um perigo tanto para a esquerda quanto para a direita porque dominava as massas - contra fatos não há argumentos.

Não é difícil compreender toda esta história, basta o brasileiro ter real interesse em pesquisar e saber o que houve. Tudo poderia ter sido diferente, não fosse a mídia canalha que enaltece e destrói a bel-prazer, e, pior, emudece quando lhe convém. Quantos, quantos casos conhecemos? Já passou da hora de reconhecermos que Wilson Simonal é um patrimônio cultural nosso, devemos isso a nós mesmos.